"Quem são os EUA para medir a democracia no mundo?", questiona Dr. Rosinha
:: Designado relator do projeto que trata da entrada da Venezuela no Mercosul, deputado Dr. Rosinha (PT-PR) critica declarações de subsecretário dos EUA. ::
O deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR), vice-presidente do Parlamento do Mercosul, questionou nesta sexta-feira (13/7) a legitimidade do governo dos Estados Unidos para classificar como "ditaduras" regimes existentes na América Latina.
Em visita realizada ontem ao Brasil, o subsecretário de Estado americano, Nicholas Burns, citou Cuba e Venezuela como duas "exceções" em uma América Latina "comprometida com a democracia".
"Que autoridade moral detém o governo Bush para medir o nível de democracia nos demais países do planeta?", questiona Dr. Rosinha. "Um governo que invade territórios à revelia da ONU, executa planos clandestinos de assassinato contra líderes mundiais e provoca milhares de mortes em diversos continentes é democrático?"
A imprensa brasileira chegou a questionar Nicholas Burns se a presença da Venezuela no Mercosul inviabilizaria um possível acordo comercial entre os Estados Unidos e o bloco sul-americano. O subsecretário alegou não poder responder à pergunta, mas não deixou de criticar Hugo Chávez. "A agenda de Chávez é completamente à parte, uma agenda radical."
Dr. Rosinha foi designado esta semana relator do protocolo de ingresso da Venezuela no Mercosul. A matéria foi encaminhada no último dia 10 à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. O parlamentar pretende concluir seu parecer na segunda semana de agosto.
"Com a entrada definitiva da Venezuela, o PIB do Mercosul será superior a US$ 1 trilhão, passando de 54% para 76% da economia da América Latina", afirma Dr. Rosinha. "Trata-se de um parceiro de peso que dará ao bloco um maior poder de inserção internacional."
Entre janeiro e maio deste ano, as exportações do Brasil para a Venezuela cresceram 31% em relação ao mesmo período de 2006. No ano passado, as empresas nacionais venderam 60% a mais do que em 2005. O superávit do Brasil com a Venezuela chegou a quase US$ 3 bilhões.
Comissão substituída
O Congresso Nacional aprovou na última quarta-feira (11/7) o projeto de resolução 3/07, que cria a representação brasileira no Parlamento do Mercosul.
O objetivo é adequar o Congresso brasileiro ao protocolo constitutivo do novo parlamento. Composta por 18 membros titulares —9 deputados e 9 senadores—, a representação substitui a Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul, que havia sido extinta em dezembro de 2006, após a criação do Parlamento do Mercosul.
"Era justamente a falta desta nova comissão que estava atrasando a aprovação, pelo Brasil, da entrada da Venezuela no bloco", explica Dr. Rosinha.
O projeto de resolução estabelece ainda que o registro de presença no Parlamento do Mercosul, com sede em Montevidéu, terá efeito equivalente ao comparecimento às sessões deliberativas do Congresso brasileiro. A freqüência dos parlamentares será comunicada às Mesas da Câmara e do Senado.
OEA defende Venezuela
Em visita esta semana ao Brasil, o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, também criticou as acusações de Nicholas Burns contra Cuba e Venezuela. "Não se pode misturar as coisas", disse Insulza. "Se quisermos analisar a situação de Cuba, temos de fazê-lo em separado, pois Cuba não é membro da OEA. Quanto à Venezuela, não há motivos para criticar um país com longa tradição democrática."
Insulza, que foi recebido pelo chanceler Celso Amorim em almoço de trabalho, no Itamaraty, pediu pressa ao Brasil quanto à adesão da Venezuela ao Mercosul. "Interessa a nós que esse tema seja resolvido logo", disse.
O secretário-geral da OEA expressou tranqüilidade em relação à decisão do presidente Hugo Chávez de não renovar a licença da emissora Radio Caracas de Televisión (RCTV). "Temos a prerrogativa de não interferir em temas internos dos países. Acho que não houve conseqüências políticas negativas por causa desse episódio."
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